quarta-feira, 29 de agosto de 2012

O Disco Arranhado

Como se não bastasse a ausência demasiado presente de papéis verdes
Que silenciam gostos, sabores e experiências, deixando restar-lhe sonhos como tais
Verdes dominantes em quase tudo em que se pode tocar, exceto o mais verde dos verdes,
Ânsia de loucura torna-se brincadeira de criança. Esconder-se de seus decrépitos desejos porcos
Há muito foi seu passatempo. Insensíveis segundos estraçalham suas gotículas de esperança,
Feitos ratos vindos de espaços indubitavelmente infernais.

"Ajuda-me, quem quer que sejas!"

Em meio ao cravar a cega lâmina de sua enxada em terra defunta, ouve-se um tinir:
São ferros se encontrando, como beijos carregados de eletricidade, se bicando e se despedindo

"Terá eu encontrado meus queridos sonhos verdes?" Debruçou-se em tolice. Esqueceu de se sustentar
E caiu de joelhos, libertando seu leve peso e substituindo o espaço incrivelmente finito de fé.

Enterrou suas unhas pretas e seus dedos secos e suas mãos ásperas e seus vãos niqueis psicológicos
Apostando tudo o que não tinha, pois o que tinha valia menos que nada. E cheio de si, berrou,
Com aquele objeto ovalado, de tempos em tempos estados físicos diferentes, de cor esbranquiçada
Pelo ignorante desgraçado em questão:

"Se bem me recordo, de outrora em diante, sou rico de verdes!" E daquele momento
Até alguns minutos futuros, amou aquele objeto como se fosse seu filho recém nascido, filho da terra.
A partir de então não se ouvia mais falar de nada a não ser o recém chegado hóspede.
E o desejo de lhe ter por perto era grandioso, estrondoso a ponto de querer se isolar de tudo e todos
E só ter abrir os míopes para seu hóspede.

Mas, a infindável passagem das horas traz à tona o que já era de se esperar: coisíssima nenhuma.

"Semanas corridas sem nenhuma luz! Quão mentiroso é você, meu querido verde?!" Pronunciou
Em baixa voz.

A atração foi se tornando fraca à medida em que seu alimento foi se tornando escasso. O verde seca
Se tornando cada vez mais acinzentado e empoeirado. A rotina debilita fisicamente o pobre rapaz
Assim como seu agourento amuleto. Preso no interior de uma gaveta, perdeu totalmente sua rigidez.

Juventude farta se esvaia.
"Maldita seja tal coisa! Como pode ser cabível de tanta desgraça, um verde tão pequeno?!" Questionou
Sem esperar resposta alguma.

Da terra veio, e para a terra voltou o temporário inquilino, após alguns ternos e turbulentos meses.
O mesmo despejar oco nos ouvidos que o deu a vida, naquele momento a tirava, regadas com lágrimas
Completamente secas.

"O que há de claro em um lapso de tosca felicidade?" Sussurrou, incrédulo.

Se sentindo incompreendido e incompreensível, se deita na cama e, minutos antes de pegar no sono,
Sorriu.

A mais sincera de todas as expressões já gesticuladas pelo velho. O estalar em suas costas!
O fez gemer de prazer.

Seu amigo retornara, com seus arranhões incuráveis.
De então, até juntos à terra.






Um comentário:

  1. Não preciso ficar te bajulando e te dizer o quanto você escreve bem, tenho certeza que você está ciente disso. Mas adorei, adorei mesmo, mesmo tendo sido um pouquinho lerda pra entender algumas coisinhas e ficado com uma curiosidade enorme comigo! UHDUISAHDUI

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